Neurônios espelho, Física Quântica, Campos Mórficos e Constelações Familiares

Neurônios espelho, Física Quântica, Campos Mórficos e Constelações Familiares

22/12/2015

O fenômeno fundamental no qual as Constelações Familiares se baseiam é o fenômeno das percepções dos representantes. Essas percepções se manifestam nos representantes que são escolhidos pelo cliente para representá-lo e também representar certos membros de sua família.

Nós não iremos discutir a realidade deste fenômeno, que não pode mais ser questionada a não ser por pessoas que não o experienciaram ou em críticas dogmáticas e teóricas. Nós iremos tentar mostrar como o pensamento atual da Física Quântica e da Neurobiologia, assim como da Psicologia e da Teoria dos Campos, podem nos levar a hipóteses a respeito de fenômenos que são aparentemente incompreensíveis, mas que, entretanto, foram observados milhares de vezes no decorrer de Constelações Familiares. Talvez isso possibilite muitos consteladores a superar suas inseguranças a respeito de suas experiências práticas e também de suas práticas clínicas enquanto terapeutas. Estamos cientes de que nossa reflexão é de natureza metafórica.

Vamos iniciar relembrando, resumidamente, a prática das Constelações Familiares. O cliente apresenta seu problema ao constelador (um facilitador, terapeuta ou conselheiro, por exemplo) que decide quais pessoas do sistema familiar do cliente devem ser constelados(colocados em um determinado espaço). É claro que não é possível colocar todos os membros de seu sistema familiar, uma vez que seriam muitos, o constelador coloca os membros mais importantes conectados ao problema que o cliente apresentou.

Dentre as pessoas presentes, o cliente escolhe os representantes colocando-os, de acordo com suas sensações, em relação uns aos outros no espaço definido.

O que então toma lugar é algo tão estranho e surpreendente quanto interessante: os representantes começam a ter sensações, emoções, pensamentos e até impulsos de se mover ou falar que genuinamente correspondem à situação relacional e psicológica das pessoas que eles estão representando: um membro (falecido ou não) do sistema familiar do cliente. Esses representantes não sabem nada ou praticamente nada sobre a vida das pessoas que eles representam. Eu gostaria de enfatizar especialmente o fato de que os representantes não possuem (ou praticamente não possuem) nenhuma informação (detalhada ou explícita) sobre as pessoas que eles estão representando. Apesar disso, as percepções dos representantes, surpreendentemente, guiam o constelador até uma (melhor) solução ao problema apresentado pelo cliente, não apenas para benefício do cliente mas também beneficiando todos os membros do seu sistema familiar que estão conectados ao problema.

É como se as pessoas consteladas (posicionadas) nesse novo sistema representativo estão entrando em contato, em ressonância, com o sistema familiar do cliente, e são capazes de fazê-lo apesar da distância espaço-temporal. O biólogo Rupert Sheldrake chama isso deressonância mórfica. No contexto dos trabalhos de Constelações, eu me refiro a esse fenômeno como ressonância morfo-sistêmica.

Inspirados pelo embriologista alemão Hans Driesch, os renomados cientistas Alexander Gurwitsch (São Petesburgo) e Paul Weiss (Viena) demonstraram que a explicação da biologia clássica baseada na transmissão genética não é suficiente para explicar a evolução da vida; eles integraram a teoria dos campos de força, chamando a atenção para a existência de outros campos, assim como da gravitação e do eletromagnetismo.

O embriologista britânico C. H. Waddington, da Universidade de Edinburgo, empregou o termo “creode” para dar significado ao caminho evolutivo direcionado a uma meta. Ele explica que essa meta é um atrator que permite informação e energia convergirem e isso, por sua vez, cria a sua manifestação ou materialização.

Foi nessa época que iniciou o trabalho de Rupert Sheldrake de estudar, elaborar e ampliar a idéia do campo morfogenético, estendendo-o da biologia para muitas outras áreas incluindo Interação Social, Economia e Psicologia, e propôs que esses fenômenos sejam referidos como campos mórficos.

Mas vamos retornar à nossa Constelação Familiar. Durante uma constelação, ocorrem os seguintes tipos de fenômenos com os representantes: eles manifestam um conhecimento preciso de fatos detalhados da família do cliente, até então desconhecidos, que são verificados posteriormente pelo cliente após falar com as pessoas próximas ou parentes. Eu menciono aqui que nós não estamos lidando com uma comunicação mediúnica espírita e que esse fenômeno ocorre praticamente durante todo o tempo em uma Constelação Familiar. Nós podemos nos perguntar: se existe um campo mórfico familiar e um sistema familiar (que psicólogos Jungianos poderiam se referir como “inconsciente coletivo ou familiar”), como se manifestam as informações sensoriais, emocionais e cognitivas nas pessoas pertencendo ao novo sistema representativo constelado?

Do nosso ponto de vista, somente as teorias quânticas e suas aplicações em campos podem hoje nos prover de algumas respostas e hipóteses satisfatórias a essa questão. Nós retornaremos a isso na seção final do artigo.

Mas primeiro, precisamos examinar outra questão que requer explicações que são fornecidas pela biologia genética, psicologia sistêmica e genealogia: quais são os diferentes “elementos de informação” transmitidos em um sistema familiar?

Em um nível biológico – e isso não é mais um mistério para ninguém – a transmissão ocorrem através de nossos genes.

Em um nível psicológico, ela ocorre primeiramente através de comportamentos baseados em relacionamentos, observação e imitação. Nós hoje sabemos que além das contribuições genéticas da mãe e do pai, o embrião, através de sua relação simbiótica com a mãe (iniciada na concepção e presente durante toda a gravidez), é positiva ou negativamente influenciado não apenas pela fisiologia da mãe, mas também por sua vida emocional. Isso é seguido posteriormente pelo período de educação e condicionamento.

Conhecer o funcionamento dos “neurônios espelho” nos traz luz não apenas aos processos de aprendizado e imitação, e consequentemente no desenvolvimento da inteligência, mas também nos fenômenos misteriosos das percepções dos representantes, que sempre estão conectadas a “movimentos” de uma natureza corporal, sensorial, emocional ou intelectual. Esses movimentos são necessariamente provocados pela informação. E essa informação pode apenas ter a sua fonte no campo familiar morfo-sistêmico representado, que está em ressonância simultaneamente com o problema apresentado pelo cliente e com o seu sistema familiar. Os neurônios espelho refletem ou “espelham” essa informação nos centros visuais do cérebro e a comunicam instantaneamente e imediatamente (etimologicamente, “sem intermediários”) ao centro motor dos representantes. A constelação então se torna a materialização, a manifestação da evolução passada e do estado atual do sistema familiar do cliente.

Rupert Sheldrake, após presenciar as Constelações Familiares, expressou sua admiração ao ver, pela primeira vez, a manifestação dos campos mórficos em ação diante de seus próprios olhos

Um dos descobridores dos neurônios espelho e professor do Departamento de Neurociência da Universidade de Parma, Giacomo Rizzolatti descreve certas funções essenciais desses neurônios espelhos. Sua principal característica é que eles são ativados quando nós executamos uma ação ou quando a observamos uma ação executada por outra pessoa. Eles são um mecanismo que projetam a descrição da ação, localizada nas zonas visuais complexas do cérebro, até os lobos motores. Esse também é o mecanismo que permite o entendimento da ação e a possibilidade de imitá-la posteriormente. Isso significa que os neurônios espelho nos permitem ver o que a outra pessoa está fazendo e entender o porquê disso (ou seja, sua intenção), antes de nós imitarmos a ação. Eles então nos possibilitam a não apenas reconhecer uma ação, mas também prever a próxima ação ou, em outras palavras, reconhecer a intenção. Pesquisas mais recentes demonstraram que esses mecanismos de neurônios espelho também são ativados na “empatia”, que é definida como a capacidade de sentir a mesma sensação, o mesmo sentimento ou a mesma emoção que outra pessoa.

Oportunamente, esses mecanismos também confirmaram a tese das origens gestuais da linguagem; a palavra falada nasceu da linguagem dos gestos e não de gritos de animais, que foi a opinião prevalecente antes do trabalho de Condillac. Movimentos e gestos, reconhecidos como mensagens arcaicas, são entendidos pelo observador sem nenhuma necessidade de comunicação verbal através da ação dos neurônios espelho. No contexto das Constelações Familiares, isso explica a importância e efetividade das colocações, recolocações e outros movimentos simbólicos condizentes com essa forma de comunicação arcaica que é imediatamente entendida pelos representantes. Também nos permite explicar as transformações praticamente instantâneas dos estados emocionais dos representantes durante uma constelação.

Para psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas, o estudo dos neurônios espelho também oferece uma nova contribuição ao entendimento de certas patologias mentais sérias como autismo e esquizofrenia, que – no caso do autismo – se fundamente na falta de empatia, conectada com uma deficiência no sistema de neurônios espelho, de forma que a seriedade da patologia é proporcional ao grau dessa deficiência.

O conhecimento dos neurônios espelho também nos ajudam a entender a importância do relacionamento mãe-filho e que a qualidade desse relacionamento condiciona o desenvolvimento da criança; de fato, não apenas a própria mãe é refletida na psique da criança mas também o seu próprio relacionamento com seus pais, ancestrais, irmãos e, naturalmente, o pai da criança (identificação freudiana).

Durante as Constelações Familiares, outro fenômeno ocorre: quando o mediador pergunta ao cliente para escolher os representantes para os membros de seu sistema familiar, o cliente geralmente (e inconscientemente) escolhe pessoas que têm o mesmo tipo de questão das pessoas que elas irão representar, apesar do fato de que o cliente não conhece nada das vidas dos representantes que escolheu. Talvez isso sirva como mais um exemplo dos mecanismos gestuais e emocionais dos neurônios espelho.

Enquanto o estudo dos neurônios espelho nos dá pistas para entender muitos dos fenômenos que ocorrem durante uma Constelação Familiar, outros fenômenos nos trazem à uma reflexão que incorpora também a Física Quântica. Em especial a pergunta a seguir: durante uma constelação como a informação é transmitida da mãe para o filho, do cliente ao seu representante ou do sistema familiar real do cliente ao sistema mórfico representativo constelado (colocado)?

Como nós sabemos, a equação de Albert Einstein E=mc² pode ser traduzida como “energia é equivalente à matéria”. A Física Quântica, e particularmente a mecânica quântica, desenvolvida por Werner Heisenberg (Prêmio Nobel de 1932) e Paul Dirac (Prêmio Nobel de 1933 com Erwin Schrödinger) e sua extensão posterior para a teoria do campo quântico com Wolfgang Pauli (Prêmio Nobel de 1945), nos permite entender a equivalência da matéria, energia e informação, assim como é apresentada contemporaneamente por Thomas Görnitz da Universidade de Frankfurt.

Aqui, equivalência significa que elementos de informação, energia ou matéria podem ser transformados uns nos outros (informação para energia, energia para matéria, matéria para informação e etc.). Görnitz demonstrou que ao associar a teoria quântica com a teoria da gravitação (particularmente com buracos negros e cosmologia) é possível determinarmos o valor absoluto da informação quântica. Vamos relembrar que quanto mais nos aproximamos do domínio infinitamente pequeno da matéria, mais essa matéria tende a desaparecer, dando espaço à energia e, finalmente, à informação. Assim, um átomo é em sua maioria um espaço vazio com um núcleo central consistindo de quarks (considerados os blocos de construção para os prótons e nêutrons). Isso é a concepção clássica, mas ela está em contradição com a realidade quântica: a massa dos quarks representa apenas 2% da massa total dos prótons enquanto o resto é o que poderíamos chamar de “movimentos” dos quarks!

Se nós retornarmos agora para a equivalência matéria-energia-informação, entendendo nisso que a informação pode existir fora do emissor e do receptor, podemos chegar à conclusão que a informação quântica é, sobretudo, não local, ou seja, “presente em todo lugar através de todo o cosmos”; e a informação é cósmica no sentido mais concreto da palavra. Isso também significa que nós devemos considerar que qualquer unidade de informação quântica (um “bit” quântico) está presente através de todo o cosmos. Entretanto, no momento que essa unidade de informação é definida, ela se torna, consequentemente, capaz de ser localizada (em um determinado ponto). Assim, por exemplo, se um bit normal é representado apenas por “direita” ou “esquerda”, um bit quântico é definido pelo contexto “onde ‘direita’ ou ‘esquerda’ estão localizados”, isto é, no ambiente. Isso é, aliás, a característica de qualquer sistema quântico: sua potencialidade relacional inclui qualquer possibilidade. Quanto mais informação existe, mais manifestações existem; então podemos definir a matéria (considerando os buracos negros e a cosmologia) como um condensado de informação quântica, algo como vapor d’água condensando em uma gota. Isso significa que nossos pensamentos (informação) são tão reais quanto os neurônios em nosso cérebro. Esses neurônios são informação condensada e nossos pensamentos são informação pura, não materializada. De um ponto de vista mais genérico, isso implica que todo pedaço de informação existe em todos os lugares (no cosmos), não está presente em lugar nenhum, nem aqui ou agora… a não ser que esteja acoplado a um substrato que a carrega.

No trabalho de Constelações Familiares, criamos um contexto – o cliente, seu problema (sua intenção), e os representantes – em que as informações originadas no sistema familiar do cliente podem se manifestar nos representantes na forma de percepções. Se nós agora, através de um esforço específico, introduzirmos novas informações (propostas de soluções melhores) no sistema constelado, essa informação – e isso é confirmado por nossas experiências – traz mudanças ao sistema familiar do cliente. E devido à sua não localidade, a informação é capaz de se manifestar instantaneamente e imediatamente se existe um atrator; em nosso caso, o atrator é o campo morfo-sistêmico do campo familiar do cliente. Isso é um exemplo de um fenômeno “EPR” (Einstein, Podowsky e Rosen); de acordo com o princípio quântico da não localidade, a informação produzida em um lugar é percebida imediatamente e instantaneamente em outro lugar, sem precisar de nenhum elemento condutor entre o transmissor e o receptor.

Vamos elaborar um exemplo: uma cliente nos conta que após uma discussão, seu filho não falou com ela por 10 anos. Nós podemos imaginar o sofrimento da mãe… e certamente do filho, fechado em sua negatividade. Durante a Constelação Familiar, nós encontramos a solução da reconciliação. Na manhã seguinte, depois de retornar de nosso seminário de constelação, a mãe nos conta (e nós podemos imaginar sua emoção) que quando ela entrou em casa encontrou uma mensagem de seu filho em sua secretária eletrônica!

A maioria dos psicoterapeutas, coaches e outros conselheiros sabem que os fenômenos EPR não são raros. Muitas vezes após uma sessão em que o caso do cliente (particular ou de negócios) foi examinado, uma solução já começou a emergir sem que o cliente soubesse da sessão ou de seu conteúdo.

Não pretendemos que essas reflexões sejam exaustivas ou definitivas como uma abordagem explanatória aos fenômenos aparentemente misteriosos ou extraordinários que ocorrem durante uma Constelação Familiar. Espero que eu tenha levantado algumas questões para os pesquisadores interessados.

Uma reflexão final para concluirmos: o princípio da não localidade na Física Quântica não é apenas espacial, mas também temporal. Um sistema quântico não possui um tempo interno, ou seja, está em contínuo presente, sem passado ou futuro. Isso é a mesma idéia que os sábios mestres do passado se referiam como eternidade em seus ensinamentos espirituais. Talvez seja também o que Carl Gustav Jung chamou de inconsciente e daquilo que Sigmund Freud disse sobre não possuir conhecimento do tempo. A realidade da informação e do pensamento também nos possibilita a conceber a realidade da consciência e do espírito sem o substrato da matéria ou, em outras palavras, sem o cérebro e sem o corpo. A Física Quântica, na vanguarda da Ciência, nos habilita a entender melhor a existência não material do espírito e sua sobrevivência mesmo quando separado do corpo físico. Uma questão é levantada: devido a sua natureza informacional, o espírito se torna não local e se dissolve no cosmos ou permanece individualizado se juntando a outro substrato ou corpo que dê suporte?

Autor: Idris Lahore

Tradução: Rodrigo Diego Ramos

Fonte: Instituto Francês de Constelações Familiares e Sistêmicas

Texto retirado de: http://rodrigoramos.org/

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